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Sem saída
Posted by Vini
on
22:52
De todos os lugares que gostaria de estar, aquele era, sem dúvida alguma, o último.
Sentir frio em Janeiro era tão ironicamente nauseante, que o garoto riu. Adorava o frio de Julho em seu país, temperaturas que beiravam os 12ºC. Agora, com neve até os joelhos e a insistência irritante dos termômetros registrarem números precedidos de um sinal de menos, seu sorriso amarelo salientava o mau humor constante, desde que chegara ali, em Agosto do ano anterior.
Tudo por um futuro promissor, dizia seu pai.Passar o Ensino Médio na Inglaterra certamente lhe renderia um excelente trabalho e uma gorda remuneração. Como se ele tivesse pedido por isso.O que as pessoas têm contra salários medianos e uma vida confortável mas que dispense luxo? Toda essa necessidade de ostentação o irritava. Sair dali, tendo 14 anos e um tutor que estava mais presente às suas costas do que sua própria sombra, estava fora de cogitação.
O segundo trimestre letivo começava e o garoto tentava encontrar pensamentos positivos em sua mente, que o animassem a continuar subindo os degraus de entrada da London West High.Ok, impossível.Nada que começasse as 8 da manhã com a palavra Geometria poderia levantar seu astral.Mesmo.
Ao obedecer às quatro letras da palavra Push, gravadas na porta de vidro da entrada da escola, lembrou-se de algo que, pelo menos, fazia sua estadia naquele país mais tolerável.Além do país, deixara pra trás uma pessoa que fazia de sua vida um inferno, ameaçando-o e chantageando-o, tudo por uma besteira infantil que fizera há cerca de dois anos e que tomara proporções desagradáveis.Dessa vez, sorriu com sinceridade ao andar pelo corredor do térreo, olhando aos alunos que comentavam animadamente suas férias de Natal.Só de não ter que ver aquele rosto odiosamente seguro e chantageador, numa escala de 0 a 10, sua tolerância subiu à 5. Os poucos amigos que havia feito desde que o ano letivo começara, em Setembro, sabiam que era muito fácil fazê-lo explodir.
Passou a andar mais rapidamente ao ouvir o som do primeiro sinal e subiu quase correndo as escadas para o primeiro andar, e mais rapidamente ainda, as do segundo.
Ao chegar no corredor de sua sala, uma aglomeração de estudantes do primeiro ano, seus colegas, chamou sua atenção. Ao notarem a presença do garoto, abriram espaço para o mesmo, atitude que o surpreendeu.Todos murmuravam em um tom surpreendido, que desagradou o garoto.Baixou os olhos para o chão, no local onde todos circundavam antes de sua chegada. Ao perceber do que se tratava, o som pareceu fugir de seus ouvidos e as imagens sob seus olhos se distorceram.
Como ela chegara até ali? Como o encontrara? Não tinha dúvida, só ela poderia ter feito aquilo. As provas da maior besteira de sua vida, em fotos e textos, espalhadas pelo chão.
Saiu correndo pelo corredor.Não sabia o que pensar, o que sentir. Tremia e suava como nunca.Enquanto corria, lágrimas se misturavam ao seu suor.Agradeceu mentalmente qualquer força que tivesse feito seu tutor decidir ficar esperando-o fora da escola naquele dia, enquanto subia as escadas.
Conhecia tão bem a mulher que acabara de arruinar sua nem começada vida, que imaginou onde ela estaria. No seu lugar preferido, é claro. De alguma forma, ela já teria descoberto esse lugar. Subiu todos os lances de escada que levavam ao terraço em menos de 5 minutos, percurso que geralmente lhe tomava 20.
Abriu a porta que dava acesso ao seu refúgio, no topo descoberto do prédio escolar, e, sem olhar duas vezes, viu o vulto pequeno e magro, envolto em um casado preto, a cabeça coberta por um capuz.
-Você é rápido – disse com uma voz triste, assim como o sorriso que esboçava pelo canto da boca
-Não tanto quanto você. Você conseguiu. Acabou comigo. Tudo por um egoísmo insano.
-O que quiser pensar. Quero ver como se livrará disso – Ela já não sorria.
-Não vou. – E, correndo, atravessou todo o terraço. Pulou para o chão de concreto coberto por neve.Daquela altura, a cobertura branca e fria , não seria de grande ajuda.
Sentir frio em Janeiro era tão ironicamente nauseante, que o garoto riu. Adorava o frio de Julho em seu país, temperaturas que beiravam os 12ºC. Agora, com neve até os joelhos e a insistência irritante dos termômetros registrarem números precedidos de um sinal de menos, seu sorriso amarelo salientava o mau humor constante, desde que chegara ali, em Agosto do ano anterior.
Tudo por um futuro promissor, dizia seu pai.Passar o Ensino Médio na Inglaterra certamente lhe renderia um excelente trabalho e uma gorda remuneração. Como se ele tivesse pedido por isso.O que as pessoas têm contra salários medianos e uma vida confortável mas que dispense luxo? Toda essa necessidade de ostentação o irritava. Sair dali, tendo 14 anos e um tutor que estava mais presente às suas costas do que sua própria sombra, estava fora de cogitação.
O segundo trimestre letivo começava e o garoto tentava encontrar pensamentos positivos em sua mente, que o animassem a continuar subindo os degraus de entrada da London West High.Ok, impossível.Nada que começasse as 8 da manhã com a palavra Geometria poderia levantar seu astral.Mesmo.
Ao obedecer às quatro letras da palavra Push, gravadas na porta de vidro da entrada da escola, lembrou-se de algo que, pelo menos, fazia sua estadia naquele país mais tolerável.Além do país, deixara pra trás uma pessoa que fazia de sua vida um inferno, ameaçando-o e chantageando-o, tudo por uma besteira infantil que fizera há cerca de dois anos e que tomara proporções desagradáveis.Dessa vez, sorriu com sinceridade ao andar pelo corredor do térreo, olhando aos alunos que comentavam animadamente suas férias de Natal.Só de não ter que ver aquele rosto odiosamente seguro e chantageador, numa escala de 0 a 10, sua tolerância subiu à 5. Os poucos amigos que havia feito desde que o ano letivo começara, em Setembro, sabiam que era muito fácil fazê-lo explodir.
Passou a andar mais rapidamente ao ouvir o som do primeiro sinal e subiu quase correndo as escadas para o primeiro andar, e mais rapidamente ainda, as do segundo.
Ao chegar no corredor de sua sala, uma aglomeração de estudantes do primeiro ano, seus colegas, chamou sua atenção. Ao notarem a presença do garoto, abriram espaço para o mesmo, atitude que o surpreendeu.Todos murmuravam em um tom surpreendido, que desagradou o garoto.Baixou os olhos para o chão, no local onde todos circundavam antes de sua chegada. Ao perceber do que se tratava, o som pareceu fugir de seus ouvidos e as imagens sob seus olhos se distorceram.
Como ela chegara até ali? Como o encontrara? Não tinha dúvida, só ela poderia ter feito aquilo. As provas da maior besteira de sua vida, em fotos e textos, espalhadas pelo chão.
Saiu correndo pelo corredor.Não sabia o que pensar, o que sentir. Tremia e suava como nunca.Enquanto corria, lágrimas se misturavam ao seu suor.Agradeceu mentalmente qualquer força que tivesse feito seu tutor decidir ficar esperando-o fora da escola naquele dia, enquanto subia as escadas.
Conhecia tão bem a mulher que acabara de arruinar sua nem começada vida, que imaginou onde ela estaria. No seu lugar preferido, é claro. De alguma forma, ela já teria descoberto esse lugar. Subiu todos os lances de escada que levavam ao terraço em menos de 5 minutos, percurso que geralmente lhe tomava 20.
Abriu a porta que dava acesso ao seu refúgio, no topo descoberto do prédio escolar, e, sem olhar duas vezes, viu o vulto pequeno e magro, envolto em um casado preto, a cabeça coberta por um capuz.
-Você é rápido – disse com uma voz triste, assim como o sorriso que esboçava pelo canto da boca
-Não tanto quanto você. Você conseguiu. Acabou comigo. Tudo por um egoísmo insano.
-O que quiser pensar. Quero ver como se livrará disso – Ela já não sorria.
-Não vou. – E, correndo, atravessou todo o terraço. Pulou para o chão de concreto coberto por neve.Daquela altura, a cobertura branca e fria , não seria de grande ajuda.
